quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Fisioterapia em Oncologia: Evidências Científicas sobre Reabilitação.



A atuação da fisioterapia em pacientes oncológicos vem ganhando cada vez mais relevância, apoiada por estudos científicos robustos. A seguir, apresento os principais benefícios evidenciados pela literatura.

1. Aumento da Atividade Física no Período Pós-operatório

Um ensaio clínico randomizado demonstrou que pacientes submetidos à cirurgia de câncer de pulmão que receberam fisioterapia intra-hospitalar — com mobilização, caminhada, exercícios respiratórios e de ombro — apresentaram níveis significativamente maiores de contagens de acelerômetro e passos por hora nos primeiros dias pós-operatórios, em comparação com controle sem fisioterapia . Apesar disso, não foram encontradas diferenças significativas na distância percorrida em 6 minutos, função pulmonar ou dispneia nesse período .

2. Melhora na Atividade Física Autorreferida Após Três Meses

Em acompanhamento de três meses após a mesma cirurgia, os pacientes que receberam fisioterapia relataram aumento na atividade física autorreferida, enquanto o grupo controle não apresentou essa melhora .

3. Redução da Fadiga em Pacientes Oncológicas

Uma revisão sistemática com meta-análise, envolvendo 20 ensaios clínicos randomizados e 1.793 participantes com câncer de pulmão, identificou que exercícios físicos (especialmente treinamento de resistência supervisionada ou combinado com aeróbico) foram eficazes em reduzir a fadiga, com tamanho de efeito moderado a grande .

4. Benefícios Psicossociais e da Qualidade de Vida Através do Exercício

Um estudo com sobreviventes de câncer testicular submetidos a treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) durante 12 semanas mostrou reduções significativas na fadiga relacionada ao câncer, além de melhora na autoestima, qualidade do sono, estresse, ansiedade e qualidade de vida — efeitos mantidos após 3 meses .

5. Segurança em Pacientes com Metástases Ósseas

Exercícios estruturados e supervisionados são seguros e benéficos para pacientes com metástases ósseas, melhorando a função física, força muscular e qualidade de vida, desde que realizados após avaliação de risco e acompanhamento contínuo .

Além disso, o HIIT se mostrou seguro, tolerável e eficaz em sobreviventes de câncer, especialmente quando iniciado antes ou durante o tratamento anti-câncer, com potenciais impactos positivos no condicionamento cardiovascular e no sistema imune .

6. Recomendações Profissionais para Cuidados Pós-operatórios

As diretrizes da American Physical Therapy Association (APTA) recomendam que o fisioterapeuta:

Realize avaliação individualizada e, em conjunto com a equipe interdisciplinar, elabore um plano de cuidado individualizado;

Inclua exercícios personalizados no pós-operatório e progrida-os gradualmente (nível de evidência B);

Use drenagem linfática manual (MLD) e compressão associadas a exercícios e respiração adequada em pacientes submetidos à linfadenectomia axilar para reduzir risco de linfedema (nível de evidência B) .


7. Preabilitação: Resultados Inconsistentes Requerem Mais Estudos

A intervenção antes de cirurgia ou tratamentos oncológicos, mostra resultados limitados. Em 25 RCTs analisados, programas combinados (aeróbico + resistência, treinamento respiratório + outros) não exibiram efeitos significativos em qualidade de vida, força muscular ou complicações pós-operatórias em comparação à assistência usual . Uma revisão mais recente (2024) sobre eficácia da preabilitação também indicou necessidade de melhor qualidade metodológica e mais dados para conclusões robustas .


A fisioterapia em oncologia é uma abordagem valiosa com benefícios claros, como:

melhoria da atividade física no pós-operatório,

redução da fadiga,

aprimoramento da qualidade de vida e bem-estar emocional,

manutenção da segurança mesmo em casos complexos como metástases ósseas,

e suporte especializado com base em diretrizes clínicas.


Entretanto, a pre-reabilitação ainda carece de evidências robustas, especialmente em termos de impacto em desfechos funcionais e complicações. A recomendação é investir em estudos bem desenhados, com metodologia rigorosa, para fortalecer as recomendações clínicas nessa área.


Referências

1. Jonsson M. et al. – Fisioterapia intra-hospitalar e atividade física após cirurgia de câncer de pulmão (RCT) 


2. Jonsson M. et al. – Seguimento após 3 meses, atividade física autorreferida 


3. Valdivia-Martínez M. et al. – Redução da fadiga com exercícios de resistência/aeróbico (meta-análise) 


4. Adams et al. – HIIT reduz fadiga e melhora saúde mental e QV em sobreviventes de câncer testicular 


5. Campbell et al. / Klika & Stafford – Segurança e benefícios de exercícios em metástases ósseas e HIIT 


6. APTA – Diretrizes para fisioterapia pós-operatória em oncologia, linfedema, drenagem e exercício individualizado 


7. Revisão sistemática de preabilitação em oncologia – resultados limitados 


8. BMC Cancer (2024) – Eficácia da preabilitação, necessidade de mais evidências 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fibrose Cística: Entendendo a Doença e o Papel da Fisioterapia Domiciliar

A fibrose cística (FC) é uma doença genética hereditária, autossômica recessiva, que afeta principalmente o sistema respiratório...