A atuação da fisioterapia em pacientes oncológicos vem ganhando cada vez mais relevância, apoiada por estudos científicos robustos. A seguir, apresento os principais benefícios evidenciados pela literatura.
1. Aumento da Atividade Física no Período Pós-operatório
Um ensaio clínico randomizado demonstrou que pacientes submetidos à cirurgia de câncer de pulmão que receberam fisioterapia intra-hospitalar — com mobilização, caminhada, exercícios respiratórios e de ombro — apresentaram níveis significativamente maiores de contagens de acelerômetro e passos por hora nos primeiros dias pós-operatórios, em comparação com controle sem fisioterapia . Apesar disso, não foram encontradas diferenças significativas na distância percorrida em 6 minutos, função pulmonar ou dispneia nesse período .
2. Melhora na Atividade Física Autorreferida Após Três Meses
Em acompanhamento de três meses após a mesma cirurgia, os pacientes que receberam fisioterapia relataram aumento na atividade física autorreferida, enquanto o grupo controle não apresentou essa melhora .
3. Redução da Fadiga em Pacientes Oncológicas
Uma revisão sistemática com meta-análise, envolvendo 20 ensaios clínicos randomizados e 1.793 participantes com câncer de pulmão, identificou que exercícios físicos (especialmente treinamento de resistência supervisionada ou combinado com aeróbico) foram eficazes em reduzir a fadiga, com tamanho de efeito moderado a grande .
4. Benefícios Psicossociais e da Qualidade de Vida Através do Exercício
Um estudo com sobreviventes de câncer testicular submetidos a treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) durante 12 semanas mostrou reduções significativas na fadiga relacionada ao câncer, além de melhora na autoestima, qualidade do sono, estresse, ansiedade e qualidade de vida — efeitos mantidos após 3 meses .
5. Segurança em Pacientes com Metástases Ósseas
Exercícios estruturados e supervisionados são seguros e benéficos para pacientes com metástases ósseas, melhorando a função física, força muscular e qualidade de vida, desde que realizados após avaliação de risco e acompanhamento contínuo .
Além disso, o HIIT se mostrou seguro, tolerável e eficaz em sobreviventes de câncer, especialmente quando iniciado antes ou durante o tratamento anti-câncer, com potenciais impactos positivos no condicionamento cardiovascular e no sistema imune .
6. Recomendações Profissionais para Cuidados Pós-operatórios
As diretrizes da American Physical Therapy Association (APTA) recomendam que o fisioterapeuta:
Realize avaliação individualizada e, em conjunto com a equipe interdisciplinar, elabore um plano de cuidado individualizado;
Inclua exercícios personalizados no pós-operatório e progrida-os gradualmente (nível de evidência B);
Use drenagem linfática manual (MLD) e compressão associadas a exercícios e respiração adequada em pacientes submetidos à linfadenectomia axilar para reduzir risco de linfedema (nível de evidência B) .
7. Preabilitação: Resultados Inconsistentes Requerem Mais Estudos
A intervenção antes de cirurgia ou tratamentos oncológicos, mostra resultados limitados. Em 25 RCTs analisados, programas combinados (aeróbico + resistência, treinamento respiratório + outros) não exibiram efeitos significativos em qualidade de vida, força muscular ou complicações pós-operatórias em comparação à assistência usual . Uma revisão mais recente (2024) sobre eficácia da preabilitação também indicou necessidade de melhor qualidade metodológica e mais dados para conclusões robustas .
A fisioterapia em oncologia é uma abordagem valiosa com benefícios claros, como:
melhoria da atividade física no pós-operatório,
redução da fadiga,
aprimoramento da qualidade de vida e bem-estar emocional,
manutenção da segurança mesmo em casos complexos como metástases ósseas,
e suporte especializado com base em diretrizes clínicas.
Entretanto, a pre-reabilitação ainda carece de evidências robustas, especialmente em termos de impacto em desfechos funcionais e complicações. A recomendação é investir em estudos bem desenhados, com metodologia rigorosa, para fortalecer as recomendações clínicas nessa área.
Referências
1. Jonsson M. et al. – Fisioterapia intra-hospitalar e atividade física após cirurgia de câncer de pulmão (RCT)
2. Jonsson M. et al. – Seguimento após 3 meses, atividade física autorreferida
3. Valdivia-Martínez M. et al. – Redução da fadiga com exercícios de resistência/aeróbico (meta-análise)
4. Adams et al. – HIIT reduz fadiga e melhora saúde mental e QV em sobreviventes de câncer testicular
5. Campbell et al. / Klika & Stafford – Segurança e benefícios de exercícios em metástases ósseas e HIIT
6. APTA – Diretrizes para fisioterapia pós-operatória em oncologia, linfedema, drenagem e exercício individualizado
7. Revisão sistemática de preabilitação em oncologia – resultados limitados
8. BMC Cancer (2024) – Eficácia da preabilitação, necessidade de mais evidências
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